quarta-feira, janeiro 10, 2007

Amostra da lógica (perversa e invisível) do capitalismo I

[Os caloteiros]

Se o chefe de um país anuncia a suspensão - ou, ao menos, a proposta de negociar a suspensão - dos pagamentos regulares da dívida externa, logo é colocado no rol de ameaças à "estabilidade" dos mercados. É acusado de caloteiro por todos os meios de comunicação da (des)ordem capitalista, como foi Nestor Kirchner em 2003, após anunciar a medida que priorizou o povo argentino ante os banqueiros e sanguessugas financeiros internacionais.

O mesmo tratamento não é dado à turma do agrocalote, também conhecido como agronegócio. Uma pequena casta que vive desde sempre às custas da banca do Estado (leia-se: dinheiro do povo brasileiro) e, embora raramente honre seus compromissos, não aceita nem cogita deixar a vida de nobreza feudal que leva - com direito a uso do trabalho escravo, vale registrar.

Mais uma vez, especula-se que os agrocaloteiros - os maiores destruidores do meio ambiente e envenenadores da nossa comida, com o uso indiscriminado e criminoso de agrotóxicos - irão pedir $ocorro ao governo federal. Esse filme é antigo e a cada ano volta à agenda. Apesar de se dizerem empresários "mudernos", aprender a planejar e a poupar, que é bom...

Imagine como seria o achaque se eles não tivessem dobrado suas exportações nos últimos quatro anos - e alguns setores, como álcool (243% de crescimento) e carnes (170%), cresceram ainda mais.

Quando ousei, em audiência pública na Câmara dos Deputados, apontar estas marcas que distinguem tal segmento da sociedade brasileira, fui vaiado por alguns dos mais ativos representantes da UDR, inclusive pela senadora eleita Kátia Abreu (PFL-TO). Quem quiser o áudio do episódio (registrado pelo sistema da Câmara), me peça que envio por email. Vindo de quem veio, considero aquela vaia uma glória para constar com destaque em meu histórico.

A amiga Milena Araguaia certa me vez me relatou o que ouviu de um pequeno agricultor goiano, negro, sexagenário, sobre os fazendeiros que passavam no local da conversa em suas picapes importadas reluzentes:

- Tá vendo esse aí? Recebe dinheiro grande do governo e a primeira coisa que faz é comprá carro novo pra ele, pra muié, manda a fia estudá no estrangeiro, reforma a casa... o pouco que eu recebo eu uso pra comprá semente, ferramenta... no dia do vencimento da parcela, o dinheiro do banco já tá todo separado, pago sem um dia de atraso, todo mês... não vivo com luxo, mas não passo necessidade nem devo a ninguém.. já esses fazendeiro só qué sabê de vivê bem... tão nem aí pra pagá o que deve...

Lição melhor, impossível.

4 Comments:

At 10:19 AM, Anonymous Anônimo said...

Voce pode mandar o áudio desse episósio na Câmara relatado por voce ?
Parabéns pelo trabalho !

Grande abraço !

 
At 10:51 AM, Anonymous Anônimo said...

Caro Rogério, preciso apenas do seu email...

 
At 3:51 PM, Anonymous Anônimo said...

Oi, Rogério. Não conhecia o teu blog ainda. Parabéns :)
N esquece de me dizer qnd será o lançamento do livro em Curitiba.
Beijo

 
At 8:19 AM, Anonymous Anônimo said...

Oi Rogério,
Isso é uma lógica perversa e que se alastra por todos os lugares e contextos socias.
No interior do Maranhão (Santa Luzia do Paruá) conheço agricultores que pegaram pequenos empréstimos e pagaram tudo certinho...Mas não conseguem mais renová-los. Não há uma explicação lógica por parte dos intermediadores, no caso, o Sindicato de Trabalhadores Rurais do Município.
O que é pior, os que são donos de maiores terrenos, têm o nome mais conhecio e uma posição social de destaque (ex-prefeitos, amigos de deputaods, cabos eleitorais de políticos eleitos)conseguem fazer novos empréstimos na hora que desejam. Empréstimos subsidiados pelo Governo Federal. Mesmo que nem sempre façam os pagamentos como devem.
Isso é uma lástima, mas é uma prática que se dá em todos os níveis...
Um abraço,
Marivalda

 

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