terça-feira, outubro 10, 2006

Contribuições sorbonnianas

Abro espaço para uma contribuição, bastante lúcida, de uma pessoa que vive fora do país há quase dois anos, mas que não deixa de acompanhar o cenário político da querida Pindorama. Segue abaixo.

“Orthodoxy is my doxy; Heterodoxy is another mans doxy”

Essa é uma frase, muito conhecida, atribuída ao bispo inglês William Warburton (1698 – 1779). Warburton, na ocasião, respondia a um amigo que se dizia cansado de ouvir a palavra “ortodoxo” e o seu antônimo “heterodoxo” sem jamais compreender o significado real dos termos.

Acredito que inspirado nessa frase um Juiz da Suprema corte americana pronunciou certa vez: “não existem idéias erradas, por mais que isso possa parecer estranho aos homens de espírito simples”.

Feita a explicação do titulo vamos à motivação desse texto – jogar um pouco de luz sobre o “doxy” dos presidenciáveis Lula e Alckmim, considerando o exposto no debate televisivo realizado no domingo passado e transmitido pela Band.

É consenso que não há muito a ser extraído do debate sobre as propostas dos candidatos. Em grande parte pelo comportamento agressivo do candidato tucano que direcionou o debate para agressões e questões éticas.

Ainda assim, tomemos um raro momento do debate em que houve exposição de posicionamento. Quando questionado sobre segurança publica, o candidato Alckmim propôs como solução para o problema a construção de mais cadeias, o endurecimento da legislação e o aparelhamento dos órgãos de repressão ao crime. O candidato Lula, por sua vez, disse ser o problema da segurança publica uma questão ligada à estrutura familiar, a igreja, a escola e a miséria em que vive o povo brasileiro.

Num outro episódio esclarecedor, o candidato Alckmim disse: “a diferença entre o veneno e o remédio é a dose” para depois completar “o problema do Governo Lula esta exatamente na dose”. Pode-se extrair dessa passagem que o tucano pretende seguir o mesmo programa do governo atual (o que pareceu contraditório, pois havia dito, pouco antes, que o atual governo não tinha programa e que o país seguia a deriva), alterando, obviamente, a “dose”. Mas, o que significa a tal “dosagem”? Claro, estamos falando das prioridades de cada um. Senão vejamos, o candidato tucano insistiu na frase “governar é fazer escolhas” e arrematou “nunca é possível fazer tudo. É uma questão de prioridades”.

Voilá o “doxy” de cada candidato! O candidato tucano acredita na repressão e no rigor das leis como solução pra o problema da segurança pública. A sua prioridade, quando o assunto é segurança pública, é construir cadeias! O candidato Lula, a seu turno, sugere reforço das ações sociais. O petista tem como prioridade o investimento em políticas que combatam a miséria, para ele, a maior responsável pela escalada da violência no país.

Não quero fazer aqui juízo de valor sobre o “doxy” de cada candidato, pois como disse o ilustre magistrado americano “não existem idéias erradas”. Alem do mais, “governar é fazer escolhas e eleger prioridades”.

Espero ter alcançado o objetivo maior do texto que é o de ajudá-lo na sua escolha.