terça-feira, novembro 07, 2006

Os múltiplos significados da derrota de Roseana Sarney

Segue artigo de minha lavra publicado no Fazendo Media.
Link original: http://www.fazendomedia.com/diaadia/nota071106.htm

Os múltiplos significados da derrota de Roseana Sarney

Passado o calor das celebrações, podemos - e devemos, diante da necessidade de adotar o rigor na análise - situar em três dimensões, distintas e complementares, o significado da vitória de Jackson Lago (PDT) sobre Roseana Sarney (PFL) na corrida ao governo do Maranhão.

No plano eleitoral, o principal grupo político do estado foi derrotado nas urnas, pela primeira vez nas últimas quatro décadas, numa disputa pelo controle da máquina estadual. Ainda que este controle tenha passado às mãos da oposição (ao clã Sarney) em alguns curtos momentos neste período, a retomada sempre veio de forma rápida e vigorosa. Derrotar a oligarquia Sarney no sufrágio popular, num momento em que ela tenta se reciclar, apresentando-se como opção - tal qual em 1965 e 1994 - modernizadora da administração e da política, não é um feito para ser menosprezado.

Cabe registrar, antes que alguns farsantes ou ingênuos enalteçam o "espetáculo da democracia", que as práticas violadoras da democracia, como a compra do eleitor, o "voto de cabresto", o abuso do poder econômico, o uso político dos órgãos estatais e o desrespeito às normas eleitorais continuaram intensas como sempre, por parte de ambos os lados em disputa. Infelizmente, as provas de tais práticas, salvo exceções, não emergem dos subterrâneos das campanhas.

Uma outra dimensão fundamental da vitória das oposições - o plural é mais preciso - ao clã Sarney é a simbólica. Além de não aceitar as farsas da "modernidade" e do "desenvolvimentismo" oferecidas pela candidata Roseana, a maioria da população maranhense manifestou o seu repúdio ao continuísmo de um grupo que ascendeu ao poder central há quarenta anos e cujos argumentos utilizados em sua defesa desmoronam fácil à mínima prova perante a realidade.

O Maranhão representa, melhor do que nenhum outro estado da federação, o que há de mais miserável e contraditório nas condições de vida de um país subdesenvolvido. Apesar de possuir um excepcional potencial gerador de riquezas - dispõe de recursos naturais e minerais em abundância, clima e terras favoráveis à agricultura, além de uma cultura popular fecunda e diversificada e opções turísticas que fazem inveja à maioria dos estados -, freqüentemente compara-se o Maranhão a países como Haiti, Somália, Etiópia e outros cujos índices sociais nos fazem refletir sobre o conceito de dignidade humana. Foi exatamente esse simbolismo, e o grupo considerado o principal responsável por tal, que foi rejeitado pelos maranhenses.

Por fim, e talvez mais importante, cabe avaliar a dimensão política da vitória sobre "Rosengana" (*), alcunha que ganhou as ruas da capital e dos principais centros urbanos do estado na forma de adesivos, camisetas, faixas, passeatas e atos político-culturais.

É bem verdade que o grupo do ex-prefeito Jackson Lago - ainda que possua raízes históricas verdadeiramente populares e ligadas ao campo democrático - ficou inequivocamente marcado, nas seguidas administrações de São Luís, pelas mesmas transgressões atribuídas rotineiramente à oligarquia Sarney: nepotismo, escândalos de corrupção envolvendo graúdas quantias, aparelhamento dos órgãos públicos, entre outras. Assim como é inegável que, dentre o amplo leque de setores que compuseram ou apoiaram a "Frente de Libertação do Maranhão", situam-se reconhecidos grupos vinculados ao (ou representantes do) crime organizado tradicional no estado. Por outro lado, deve-se reconhecer o potencial renovador da esquerda que esta eleição trouxe aos maranhenses, dando capital político a jovens lideranças como Flávio Dino (deputado federal eleito pelo PCdoB) e Bira do Pindaré (candidato a senador pelo PT, o mais votado em São Luís), por exemplo.

A vitória política sobre o clã Sarney, mais do que a eleitoral e a simbólica, traz a possibilidade (e a necessidade) da reconfiguração das forças e campos políticos no estado. O tabuleiro do xadrez está indefinido. Poderemos assistir ao surgimento (ou consolidação, como alguns analistas preferem) de uma outra oligarquia. Bem como poderemos testemunhar, ao contrário do que pensam os eufóricos, o breve retorno do mandonismo sarneísta. Ou, até, presenciarmos uma guinada do Maranhão à esquerda, a exemplo de tantos estados próximos e de contexto social semelhante - Pará, Piauí, Ceará, Pernambuco, Sergipe e Bahia.

A única certeza é a de que a movimentação das peças políticas em curto e médio prazo, numa partida que não se resume a dois jogadores, neste cenário inédito, vai (re)definir os rumos do Maranhão neste início de século.

Rogério Tomaz Jr., jornalista formado pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), integrante do Intervozes - Coletivo Brasil de Comunicação Social.

(*) http://www.flogao.com.br/valeprotestar

segunda-feira, novembro 06, 2006

Pela memória de Vladimir Herzog

NOTA DE REPÚDIO

Pela memória de Vladimir Herzog


O coletivo Sindicato é Pra Lutar!Movimento em Defesa dos Jornalistas de São Paulo vem a público manifestar seu repúdio à presença do governador Cláudio Lembo (PFL) na cerimônia de entrega do XXVIII Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Direitos Humanos e Anistia, realizado no dia 25 de outubro no Memorial da América Latina.

No entender do grupo – formado por jornalistas de diversas regiões do Estado de São Paulo, atuantes em diferentes segmentos e veículos de comunicação social – é inconcebível a participação de um apoiador do regime militar no prêmio que presta homenagem à memória do jornalista Vladimir Herzog (Vlado), assassinado por agentes da Ditadura, em 1975, durante sessão de tortura nas dependências do DOI-Codi do II Exército.

Em se tratando de Direitos Humanos, é impossível compreender o convite feito a Lembo pelos organizadores, não só por ele haver integrado a Arena – partido que deu sustentação e apoiou integralmente o regime dos generais no Brasil – como também pelo fato de que, após os ataques do crime organizado, em maio deste ano, o governador calou-se diante das atrocidades cometidas por policiais militares que, a pretexto de combater os criminosos, executaram inúmeros cidadãos inocentes. O governo estadual obstruiu as investigações levadas a cabo pelo Ministério Público e sociedade civil e não puniu os responsáveis.

Por fim, é no mínimo estranha a atitude dos organizadores do evento, que convidaram o governador a integrar a mesa do prêmio, mas deixaram de fora Ivo Herzog, representante da família do homenageado. A memória de Vlado não merecia essa ofensa adicional.

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, principal organizador do prêmio, é parte da história de lutas do povo brasileiro. Sua diretoria deve explicações à sociedade por esse convite que foi um desserviço à causa dos Direitos Humanos.

Adesões a esta nota de repúdio podem ser enviadas para o endereço jornalistas@sindicatopralutar.com.br

São Paulo, 31 de outubro de 2006

Sindicato é Pra Lutar! – Movimento em Defesa dos Jornalistas de São Paulo