terça-feira, setembro 19, 2006

Olhos abertos para o golpismo da direita fascista

Não se trata nem de face. É uma questão de natureza, de identidade, de modus operandi e de questão de sobrevivência (leia-se: perpetuação nas esferas do poder).

O setor conservador - ou, em linguagem clara, a direita - tem no golpismo uma estratégia central da manutenção da sua hegemonia. A história denota isso. Só nega quem tem o rabo preso com tal setor, bastante amplo e diversificado, hoje capitaneado pela dupla PSDB/PFL, na arena política, e pelos grandes banqueiros, industriais e pelos coronéis "mudernos" do agronegócio, no campo econômico.

Para ficar numa cronologia simples, puxada de memória:

- a independência foi um acerto entre as elites da época. Nada de deixar os ventos revolucionários dos vizinhos sulamericanos contagiarem o povo brasileiro a exigir à força a sua autonomia política;

- novo acordo político para que se consumasse a proclamação da República. Apenas um acordo de cavalheiros, ao gosto da conveniência de então;

- de 1889 até a "revolução" de 30, esse acordo significou a alternância do poder central entre os mais bem aquinhoados de São Paulo e de Minas Gerais. De República, tínhamos apenas o nome;

- com a subida de Vargas, vieram o autoritarismo e as ambigüidades do Estado Novo. Quinze anos de ditadura com verniz (nada mais que isso) social-democrata;

- o retorno da "normalidade" eleitoral não impediu novas tentativas de golpes, como a fracassada ação que visou impedir a posse de JK;

- o "golpe dentro do golpe", com o AI-5 de 1968;

- os pequenos golpes contra a resistência anti-regime, como nas eleições de 1982, quando a Globo ajudou a construir a fraude nas eleições para o governo do Rio de Janeiro, com o objetivo de evitar a iminente vitória de Leonel Brizola;

- sem falar nos golpes realizados a cada eleição, em cada estado e município, que ajudaram a fortalecer e perpetuar o coronelismo e as práticas clientelistas, paternalistas e autoritárias em cada canto do país, excetuando-se aqueles onde a sociedade, a muito custo, logrou derrotar os "curunéis", tradicionais e "mudernos", no campo e na cidade.

Como bem lembra Emir Sader,

"
Naquela época, apelavam para os quartéis – eram chamadas de “vivandeiras de quartel” -, das quais a mais conhecida era Carlos Lacerda – significativamente recordada por FHC. Hoje se apela à Justiça. Não querem esperar o veredicto das urnas. Sabem que perdem. Sabem que os milhões de votos de Lula impedem qualquer aventura golpista e por isso tentam desesperadamente, na contagem regressiva para sua derrota, um golpe contra a reeleição".
(ver "Tapetão da direita", em: http://www.pt.org.br/site/artigos/artigos_int.asp?cod=1182)

Eles sabem bem o que é corrupção. Têm pós-pós-doutorado no assunto. Petistas (ir)responsáveis pelos episódios ora denunciados devem ser sumariamente expulsos do partido e afastados do governo. É o que está acontecendo, via de regra. E as estruturas do governo (Ministério da Justiça, Polícia Federal, Controladoria etc.) devem investigar sem qualquer restrição - e sem usar o processo como munição eleitoral - os casos. Felizmente, também é o que está acontecendo, ao contrário do que se via durante o reinado F(MI)HC, no qual ficou célebre a figura do "Engavetador-Geral da República", Geraldo Brindeiro.

E com vocês, a velha novidade: o pobre não sabe votar

Um "imortal" é dono do Maranhão há exatos quarenta anos. Dominação na base do cabresto, da corrupção que compra e vende instituições e pessoas, e alicerçada em mentiras, muitas mentiras (se Padre Antonio Vieira fosse vivo...).

Da mesma forma, ACM reina na Bahia há mais de quatro décadas.

Um punhado de famílias ricaças de São Paulo, secundadas por algumas de Minas Gerais e, em menor escala, de outros estados, governa o Brasil desde antes de nos tornarmos República.

Toda esta plutocracia é a maior responsável pela situação de desgraça social em que o Brasil se encontra desde que nos entendemos enquanto nação.

E, mesmo assim, os nobres dos palácios, ontem, e das mansões, hoje, detêm a maior parte dos cargos eletivos no poder público, em todos os níveis e em todos os poderes. As exceções apenas justificam a regra.

No entanto, diante da possibilidade, cada vez mais concreta, da vitória de Lula na eleição do dia 1/10, um novo argumento se soma às acusações histéricas que visam, ao mesmo tempo, evitar a derrota fragorosa e deslegitimar a iminente vitória do ex-operário: o povo não sabe votar.

Vale a pena ler o artigo de Nelson Breve, na Carta Maior: "Quem disse que pobre não sabe votar?"

Suprima-se o povo, então! Ou a democracia, como tanto já fizeram (mais de um terço do século XX) antes, que já resolve qualquer incoveniente adional.

Democracia, aliás, figura tão cantada e decantada, em qualquer ocasião, por aqueles que menos a respeitam e mais a ferem. Não existe, nunca existiu e jamais existirá democracia política enquanto não houver democracia social. E o capitalismo é antagônico a isso.